quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Os Princípios Lógicos da Razão

Os princípios lógicos da razão

Desde os seus começos, a Filosofia considerou que a razão opera seguindo certos princípios que ela própria estabelece e que estão em concordância com a realidade, mesmo quando os empregamos sem os conhecer explicitamente. Ou seja, o conhecimento racional obedece a certas regras ou leis fundamentais, que respeitamos até mesmo quando não conhecemos diretamente quais são e o que são. Nós respeitamo-las porque somos seres racionais e porque são princípios que garantem que a realidade é racional e que a nossa razão funciona de forma coerente.

Esses princípios são:

O Princípio da identidade, cujo enunciado pode parecer surpreendente: “A é A” ou “Qualquer objecto é igual a si próprio”. O princípio da identidade é a condição do pensamento e sem ele não podemos pensar. Ele afirma que uma coisa, seja ela qual for (um ser da Natureza, uma figura geométrica, um ser humano, uma obra de arte, uma ação), só pode ser conhecida e pensada se for percebida e conservada com a sua identidade.

Por exemplo, depois que um matemático definir o triângulo como figura de três lados e de três ângulos, não só nenhuma outra figura que não tenha esse número de lados e de ângulos poderá ser chamada de triângulo como também todos os teoremas e problemas que o matemático demonstrar sobre o triângulo, só poderão ser demonstrados se, a cada vez que ele disser “triângulo”, soubermos a qual ser ou a qual coisa ele se está a referir. O princípio da identidade é a condição para que definamos os conceitos que representam as coisas e possamos conhecê-las a partir das suas definições.

O Princípio da não-contradição, cujo enunciado é: “A é A e é impossível que seja, ao mesmo tempo e na mesma relação, não-A”; "um objeto não pode ser e não ser ao mesmo tempo e segundo uma mesma perspectiva; uma proposição não pode ser verdadeira e falsa ao mesmo tempo e segundo uma mesma perspectiva".

Assim, é impossível que a árvore que está diante de mim seja e não seja uma figueira; que o cão da Filomena seja e não seja branco; que o triângulo tenha e não tenha três lados e três ângulos; que o homem seja e não seja mortal; que o vermelho seja e não seja vermelho, etc.

Sem o princípio da não-contradição, o princípio da identidade não poderia funcionar. O princípio da não-contradição afirma que uma coisa ou uma ideia que se negam a si mesmas se autodestroem, desaparecem, deixam de existir. Afirma, também, que as coisas e as ideias contraditórias são impensáveis e impossíveis.

O Princípio do terceiro-excluído, cujo enunciado é: “Ou A é x ou é y e não há terceira possibilidade”; "uma coisa é ou não é, não há uma terceira alternativa"; " uma proposição é verdadeira ou falsa, não há uma terceira possibilidade". Por exemplo: “Ou este homem é Sócrates ou não é Sócrates”; “Ou faremos a guerra ou faremos a paz”. Este princípio define a decisão de um dilema - “ou isto ou aquilo” - e exige que apenas uma das alternativas seja verdadeira.

O Princípio da razão suficiente, que afirma que tudo o que existe e tudo o que acontece tem uma razão (causa ou motivo) para existir ou para acontecer, e que tal razão (causa ou motivo) pode ser conhecida pela nossa razão. O princípio da razão suficiente costuma ser chamado ‘princípio da causalidade’ para indicar que a razão afirma a existência de relações ou conexões internas entre as coisas, entre factos, ou entre ações e acontecimentos. Pode ser enunciado da seguinte maneira: “Dado A, necessariamente se dará B”. E também: “Dado B, necessariamente houve A”.

Isso não significa que a razão não admita o acaso ou ações e factos acidentais, mas sim que ela procura, mesmo para o acaso e para o acidente, uma causa.

Pelo que foi exposto, podemos observar que os princípios da razão apresentam algumas características importantes:

- não possuem um conteúdo determinado, pois são formais: indicam como as coisas devem ser e como devemos pensar, mas não nos dizem quais coisas são, nem quais os conteúdos que devemos ou vamos pensar;

- possuem uma vigência universal, isto é, onde houver razão (nos seres humanos e nas coisas, nos factos e nos acontecimentos), em todo o tempo e em todo lugar, tais princípios são verdadeiros e são aplicados por todos (os humanos/os seres racionais) e obedecidos por todos (coisas, factos, acontecimentos);

- são necessários, isto é, indispensáveis para o pensamento e para a vontade, indispensáveis para as coisas, os factos e os acontecimentos. Indicam que algo é assim e não pode ser de outra maneira. Necessário significa: é impossível que não seja dessa maneira e que pudesse ser de outra.

Marilena Chaui

http://cristianofilosofia.no.comunidades.net/index.php?pagina=1388944761 

(Consulta: 24/09/2013)



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