segunda-feira, 29 de setembro de 2014

A Política e o Desporto

Quando o Desporto é uma arma de Propaganda Política

O desporto na Alemanha nazi
Quando Adolf Hitler morreu em 1945, Martin Luther King Jr. ainda não era um conhecido activista político nos EUA. O ditador nunca ouviu falar no norte-americano mas tinham algo em comum: um sonho. Hitler acreditava que o ariano era um povo superior e mesmo antes da II Guerra Mundial, quis demonstrar a superioridade dos germânicos durante os Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936. O ideal
de Pierre de Coubertin foi levado à letra por Hitler, que queria, à força, demonstrar a grandeza da nação. Os arianos tinham de ser mais altos, mais fortes, mais rápidos. Simplesmente melhores. Para prová-lo a todo o mundo, houve a primeira transmissão televisiva.
O recrutamento era decisivo. Era preciso contar com todos os alemães, mesmo que eles não correspondessem ao sonho de Hitler. Helen Mayer foi uma delas. No currículo contava com uma medalha de ouro em esgrima, mas ser judia tinha feito com que o partido nacionalista lhe retirasse a cidadania
alemã. Para participar em 1936, foi aberta uma excepção (esquecida pouco depois). Num mundo fechado como na década de 30, a visibilidade dos Jogos Olímpicos tinha um factor decisivo no mundo. Hitler teve uma pequena vitória: a Alemanha foi de facto o país com mais medalhas (89 contra as 56 dos Estados Unidos), mas as derrotas localizadas, como o domínio de Jesse Owens, um afro-americano, no atletismo foi visto como uma humilhação.
Hitler não desistiu e continuou a fazer do desporto uma prioridade. Joseph Goebbels, ministro da Propaganda, admitia que “o desporto alemão tem uma única tarefa: fortalecer o carácter do povo germânico, enchendo-o com o espírito competitivo e a camaradagem necessária para a luta pela existência”. As derrotas de Hitler continuaram nos anos seguintes. Em 1937 foi a vez do ténis, com a grande figura alemã, Gottfried von Cramm, a sair derrotada das finais de Wimbledon (0-3) e do US Open (2-3), ambas contra o norte-americano Don Budge. Em 1938, no futebol e no boxe. Num Alemanha-Áustria, organizado para marcar a integração da equipa austríaca na alemã e com uma combinação para que o jogo terminasse com um empate, Matthias Sindelar vestiu o papel de rebelde. Marcou um dos golos da vitória austríaca (2-0) e celebrou efusivamente em frente aos nazis. No boxe, Max Schmeling foi derrotado por Joe Louis no Yankee Stadium em Nova Iorque perante 70 mil pessoas. Foram humilhações atrás de humilhações. Hitler queria fazer do desporto um sinal de superioridade mas fracassou. Era um prenúncio do que voltaria a acontecer no futuro.




Black Power e Setembro Negro



Podem ser black e negro mas não tiveram nada a ver. O primeiro, em 1968, foi um movimento utilizado pelos afro-americanos nos Jogos Olímpicos da Cidade do México para apoiar a campanha que se vivia nos Estados Unidos pelos direitos civis e pela igualdade. Atingiu o ponto alto quando Tommie Smith e John Carlos fizeram a saudação do movimento durante a cerimónia de entrega de medalhas.











Em 1972, foram os Jogos Olímpicos de Munique a estar em destaque. A prova ficou marcada pelo sequestro e assassinato de 11 membros da equipa olímpica de Israel, por parte do grupo palestiniano Setembro Negro.
Mantendo a tradição, os Jogos Olímpicos continuaram a ser uma maneira de marcar uma posição. Por isso, na década de 1980, em plena Guerra Fria, os norte-americanos boicotaram Moscovo-1980 e em resposta os soviéticos falharam a presença em Los Angeles-1984. Mais recentemente, em Pequim-2008, a China quis mostrar ao mundo que tinha um enorme potencial desportivo e surpreendeu com o domínio nas medalhas.









O desporto e a luta contra o Apartheid 

A África do Sul soube aproveitar o desporto da melhor maneira para promover um reencontro político e social. Nelson Mandela viu no Mundial de râguebi a o portunidade perfeita para mostrar ao mundo que o apartheid era passado e que os dois povos podiam viver em sintonia e partilhar interesses.
O momento foi um ponto de viragem. Os sul-africanos foram campeões mundiais e mais tarde a campanha ficou eternizada por Morgan Freeman no papel de Nelson Mandela no filme “Invictus”.

O exemplo do Futebol 
Como pode um político usar um futebolista para fazer campanha? Portugal sabe o que isso é. A 25 de Setembro de 2009, José Sócrates foi visto a tomar o pequeno-almoço com Luís Figo, que mais tarde manifestou o seu apoio ao primeiro-ministro de então. O caso tornou-se polémico com a notícia, depois desmentida, de um alegado pagamento de 750 mil euros para que o ex-internacional português participasse na campanha de Sócrates.
Em 1998, o choque de forças foi mundial quando EUA e Irão se defrontaram no Mundial de futebol. O jogo foi visto como de segurança máxima e os asiáticos saíram com um triunfo (2-1). Ainda assim, esteve longe de ter a mesma importância da “Guerra das 100 Horas”, que opôs as Honduras a El Salvador. Em 1969, um quinto da população que vivia nas Honduras era natural de El Salvador. Os hondurenhos tinham implementado reformas na imigração e o ambiente de tensão era sufocante. Por isso, os jogos entre as duas selecções, a 8 e 15 de Junho foram marcados por violência. Depois da primeira mão, uma rapariga de El Salvador suicidou-se com um tiro na cabeça e foi vista como mártir, com o funeral transmitido na televisão. A 26 de Junho (dia do playoff na Cidade do México com triunfo para El Salvador por 3-2), os salvadorenhos cortaram os laços com as Honduras e os conflitos na fronteira tornaram-se inevitáveis a 14 de Julho. Duraram 100 horas e nenhum dos países saiu a ganhar.

O poder... e o desporto
"O poder, hoje, é mais fácil de obter, mas difícil de manter... e mais fácil de perder"
(Moisés Natan)

Em democracia, o poder está diluído por muitos centros de decisão, é mais difícil obter consensos e por isso é mais difícil ser-se obedecido, ou seja, hoje, o que interessa é saber aquilo que um "líder" quer fazer mais do que aquilo que ele faz, porque nem sempre o que ele fez era aquilo que ele queria fazer. Significa isto que o poder, hoje, em democracia, está muito limitado, ou por razões orçamentais ou por pressões políticas de lobbies, muito poderosos, que condicionam, de forma decisiva, a capacidade da tomada de decisões que mexam com interesses instalados.
Podemos então falar de contrapoderes de não-poderes e do poder para concluir que a noção de poder que vinda do antigo regime há muito desapareceu e já não é mais a capacidade de obrigar terceiros para passar a ser "a capacidade de convencer terceiros", o que significa que a democracia impõe regras e procedimentos que quase impossibilitam a concretização do programa de acção anunciado, o que faz que os políticos fiquem, publicamente, desacreditados, objectivo prioritário das oposições. Mas há o princípio da reciprocidade a não esquecer, ou seja, quando a oposição ascender ao poder acontecer-lhe-á o mesmo, o que quer dizer: "Quem com ferro mata, com ferro morre."
/.../
 Ora, enquanto estes fenómenos acontecem nas sociedades modernas, o desporto afirma-se cada vez mais como um acto livre e independente que só depende da vontade do indivíduo e do seu mérito, que o pode levar ao topo da escala do êxito e da fama e que aparece, ou pode aparecer, como uma oportunidade de um poder independente, livre, solidário, democrático, porque ali (no desporto) todos são iguais, e onde as pessoas atingem posições de relevo devido ao seu mérito, ao seu valor, e não, como na sociedade fora do desporto, por favores, por batota, por cunhas, por corrupção, etc. etc.
É evidente que estamos a falar de todo aquele desporto que não seja profissional, porque nesse também há política, interesses lobbies e corrupção.
Mas o verdadeiro desporto está hoje a ser uma tentação para o poder político no sentido de ser aproveitado para a propaganda política do regime, como aliás o fez A. Hitler.
É pois necessário que as associações e as federações desportivas, que têm como dirigentes homens "bons" e "dedicados", que trabalham pelo desporto, sem intuitos lucrativos, estejam atentas às intenções do poder político, seja ele da cor que for, para que conserve a sua independência e pureza originais e seja de facto um contrapoder que venha a afirmar-se, no futuro, como um poder que limite a acção, ou acções, do Governo, quando elas não defendam os interesses do verdadeiro desporto.
Mário Bacelar Begonha

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

'Invictus'


Texto 1
Invictus 

Out of the night that covers me,
Black as the pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.

In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.

Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds and shall find me unafraid.

It matters not how strait the gate,
How charged with punishment the scroll,
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul. 
________

Invictus 

De dentro da noite que me rodeia
Negra como um poço de lado a lado
Agradeço aos deuses que possam existir
pela minha alma indomável

Sob as garras cruéis das circunstâncias
eu não tremo e nem me desespero
Sob os duros golpes do acaso
A minha cabeça sangra, mas continua erguida

Para lá deste lugar de lágrimas e ira,
Nada mais se vê que os horrores da sombra.
Mas mesmo assim a ameaça dos anos,
Encontra-me e me encontrar-me-á, sem medo.

Não importa quão estreito o portão
Quão repleta de castigo a sentença,
Eu sou o senhor de meu destino:
Eu sou o capitão de minha alma. 

William Ernest Henley

_______________

Texto 2

Introdução ao filme ‘Invictus’


“Durante o tempo em que esteve na prisão de Robben Island, Nelson Mandela encontrou no poema "Invictus", a força necessária para continuar vivo e manter acesa a chama da luta contra a desigualdade instituída pelo regime do Apartheid.
Escrito pelo poeta inglês William Ernest Henley em 1875, o poema foi o grande companheiro de Mandela na pequena cela 4 da ala B de Robben Island. Condenado a trabalhos forçados, foi na cadeia localizada numa ilha a 11 quilómetros da Cidade do Cabo, que o líder da luta contra o Apartheid passou 18 dos 27 anos que esteve preso. Mandela contou que, toda vez que fraquejava, lia e relia o poema para aplacar o sofrimento e buscar forças para seguir em frente.
‘Invictus’ também é o título do filme realizado por Clint Eastwood, que conta a história da conquista do título mundial de Rugby pela seleção da África do Sul durante o Campeonato Mundial realizado naquele país. Durante a competição, Mandela entrega o poema ao capitão da seleção sul-africana, para motivá-lo a ganhar a competição. O então presidente percebia que a vitória poderia unir o país, que ainda enfrentava a segregação racial.”

Texto 3
Comentário do filme ‘Invictus’

"O amor da democracia é o da igualdade."
Barão de Montesquieu

Vi novamente o filme "Invictus" (2009), uma história real sobre o início do governo de Nelson Mandela. Confesso que me emocionei tanto quanto da primeira vez. Este filme é baseado no livro "Conquistando o Inimigo" de John Carlin. O "inimigo" de Mandela neste caso era a minoria "branca" e poderosa da África do Sul.
Ouvimos muito sobre o regime do Apartheid, mas vendo o filme, ele ganha uma nova dimensão e conseguimos parcialmente imaginar o quão desafiador o trabalho do Presidente Nelson Mandela foi, especialmente logo após ser eleito. Ele teve que encarar o desafio de implantar um regime democrático num país completamente dividido e à beira de uma guerra civil.
Através do rugby, Mandela inicia algo aparentemente impossível: estabelecer a união de uma nação tão dividida e aparentemente "diferente". 
Algumas frases do Mandela ecoaram na minha alma e espero poder um dia viver como ele, sem mágoa em relação aos que o prejudicaram (27 anos preso) e principalmente sem nunca desistir dos seus sonhos e desafios.
O Apartheid (separação) foi um regime de segregação racial adotado de 1948 a 1994 pelos sucessivos governos do Partido Nacional na África do Sul, no qual os direitos da grande maioria dos habitantes foram cerceados pela minoria branca. A segregação racial na África do Sul teve início ainda no período colonial, mas o apartheid foi introduzido como política oficial após as eleições gerais de 1948. A nova legislação dividia os habitantes em grupos raciais ("negros", "brancos", "de cor", e "indianos").
Nessa altura, o segregou a saúde, a educação e os outros serviços públicos, fornecendo aos negros serviços inferiores aos dos brancos.
O apartheid trouxe violência e um significativo movimento de resistência interna, bem como um longo embargo comercial contra a África do Sul. Uma série de revoltas populares e protestos levaram à repressão violenta da oposição e a detenção de líderes anti-apartheid. 
Reformas no regime durante a década de 1980 não conseguiram conter a crescente oposição, e em 1990 o presidente Frederik Willem de Klerk iniciou negociações para acabar com o Apartheid, o que culminou com a realização de eleições multirraciais e democráticas em 1994, que foram vencidas pelo Congresso Nacional Africano, sob a liderança de Nelson Mandela.
Algumas palavras de Nelson Mandela:
“O perdão liberta a alma. Ele remove o medo. Por esta razão é uma "arma" tão poderosa.”
"Ninguém nasce a odiar outra pessoa pela cor da sua pele, pela sua origem ou ainda pela sua religião.
Para odiar, as pessoas precisam de aprender, e se podem aprender a odiar, também podem ser ensinadas a amar."
_____________

Atividades:

I – Com base nos textos desta ficha, elaborem um comentário do filme ‘Invictus’, desenvolvendo os seguintes tópicos:
  a) A importância da igualdade em democracia;
  b) a necessidade da luta contra o racismo e todas as formas de intolerância;
  c) o exemplo de Nelson Mandela;
  d) uma análise do poema ‘Invictus’;
  e) a relação entre a política e o desporto/ a relação entre a democracia e o desporto.
O comentário deve ter um mínimo de 250 palavras.

domingo, 21 de setembro de 2014

A Democracia e os Partidos Políticos



Texto 1 - A democracia e os partidos políticos
O art. 10.º, n.º 2, da Constituição da República Portuguesa determina que os “partidos políticos concorrem para a organização e expressão da vontade popular”. A expressão “concorrem” significa que os partidos contribuem, no seu conjunto, “para a organização e expressão da vontade popular”.
Num país com cerca de dez milhões de habitantes seria impraticável que todas as decisões políticas (incluindo as leis) implicassem o recurso ao referendo. Daí que o mesmo art. 10.º, agora no seu número 1, refira que o “povo exerce o poder político através do sufrágio universal […] e das demais formas previstas na Constituição”.
Deste modo, o povo elege “representantes” que se tornarão, por esta via, titulares de órgãos de soberania (deputados, membros do Governo, Presidente da República) com o poder de tomar decisões políticas (incluindo criar leis), com o poder de fazer escolhas em nome do povo. É este o significado de democracia representativa.
E como se escolhem as pessoas para desempenhar estes cargos? Aqueles que estão dispostos a candidatar-se a tais funções, bem como as pessoas que os querem ajudar, associam-se em torno de um sistema coerente de valores, ideias e objetivos, uma ideologia, e formam um partido político. Assim, o povo participa na decisão política essencialmente através dos seus representantes.
Estes representantes, porém, devem atuar de acordo com o mandato que lhe foi conferido pelos eleitores, mandato esse que consistirá no programa apresentado ao eleitorado e que este sufragou através do voto. Este programa representa uma proposta que cada partido faz ao eleitorado baseada na sua ideologia política.
O que acontece hoje em Portugal é algo diferente, porém. Os partidos não defendem aquilo que consideram correto e adequado para o país de acordo com a sua ideologia política, mas limitam-se a berrar histericamente nos meios de comunicação social aquilo que eles acreditam que as pessoas querem ouvir.
O discurso político (o modo como é construída a mensagem destinada aos eleitores) deixou de ser persuasivo e passou a ser manipulador, com recurso à meia verdade, ou mesmo à mentira pura e dura, à descontextualização, à exacerbação da histeria colectiva; um discurso onde não existe lugar para a decência e a ética. Tudo com a ajuda da comunicação social. Vale tudo para ganhar eleições.
Salvo algumas exceções, os políticos deixaram de defender uma ideologia. Sem a ideologia o debate político perde sentido; ficam os interesses individuais (ocultos) e o insulto. Quem tem ideias e não tem receio de as defender (mesmo contra o pensamento dominante) foge da política, porque não se quer “sujar” (quando a função política devia ser a função mais nobre de qualquer sociedade), não quer ver a sua vida privada escrutinada e exposta nos jornais e nas televisões, nem quer ser difamado pelos medíocres do costume.
Se aspiramos a algo mais do que ter um “dono justo” devemos ser exigentes, antes que seja tarde demais.
Agostinho Guedes 
(Texto Adaptado) 


Texto 2 - O que é a esquerda e a direita?
Direita e esquerda são posições políticas originárias do lugar ocupado pelos representantes da sociedade francesa nas cadeiras da Assembleia Nacional Constituinte, no tempo de Luís XVI, nos anos finais do Antigo Regime, no século XVIII. Os representantes dos nobres, burgueses ricos e elementos do clero ficavam à direita. Eram os que não queriam grandes alterações na ordem social e política, que os beneficiava por meio de um sistema de privilégios.
Os representantes da pequena e média burguesia e de pessoas simpáticas a tais sectores ficavam à esquerda. Eram os que desejavam o fim dos privilégios e uma reforma política e social que, segundo eles, tiraria a França da crise em que se encontrava, e em função da qual o rei havia convocado a Assembleia.
Com o tempo e por influência cultural e política da França, essa terminologia tipicamente francesa ganhou o mundo, sendo adotada inicialmente pelos jornais tendo-se, depois, generalizado. Desse modo, historicamente a expressão “direita política” passou a identificar os partidos dos economicamente privilegiados, enquanto que a expressão “esquerda política” ficou conotada com os partidos dos menos privilegiados.
Assim, em termos históricos, direita e esquerda não se definiram inicialmente pelas relações entre indivíduo, sociedade e estado, como em geral tendemos a pensar hoje em dia, mas segundo uma divisão entre a “política dos ricos” e a “política dos pobres”. No entanto, na política europeia, os ricos diziam preferir um estado que viesse a garantir certos serviços essenciais, mas sem interferir muito diretamente nas forças económicas e principalmente no mercado. Por sua vez, os pobres queriam subsídios, pagos por meio de impostos e administrados pelo estado, para a amenização da má sorte na lotaria do nascimento.
Desse modo, a direita defendia uma posição alheia ao crescimento do estado na sociedade, enquanto que a esquerda se tornou uma posição em favor da maior participação do estado na vida social.
No decorrer do século 20, fenómenos ligados ao imperialismo alteraram um pouco esse quadro. Alemanha, Japão e Itália desenvolveram um desejo de participar do comércio internacional de forma imperialista, mas esse tipo de posição já tinha dono. Inglaterra, França e, de certo modo, os Estados Unidos já haviam repartido o mundo em três, exercendo toda a forma de neocolonialismo. A ideia que Alemanha, Japão e Itália tiveram, então, foi uma só: quebrariam a ordem liberal interna (democrática) dos seus estados e os colocariam ao serviço de algumas empresas e de alguns grupos de pessoas ricas, com vista terem empresas poderosas, capazes de competir com as empresas privadas das democracias liberais. Além disso, sempre pensando que talvez não pudessem competir de igual para igual, esses países militarizaram-se e quiseram abrir espaço para o comércio com os povos neocolonizados com base da força. Iniciaram então a invasão de países próximos, em busca de um confronto direto com aqueles que então dominavam comercial e industrialmente o mundo. Isso resultou na II Guerra Mundial.
Nasceu dessa posição militarista aquilo que veio a tornar-se genericamente a “política do fascismo”. Uma potência fascista, então, passou a ser aquela constituída como um estado totalitário militarizado, protetor das empresas capitalistas e empresas estatais do seu país, baseado numa hierarquia de poder e privilégios, dos quais participariam não todos os ricos, mas especialmente aqueles que fossem simpatizantes do governo fascista, comandado por um ditador. Esse tipo de posição assumiu-se como “de direita”, é claro, uma vez que se tratava de exercer uma política voltada para os sectores dominantes e ao mesmo tempo para o estado, sendo que este se punha como protetor e protegido desse grupo social, ainda que, é claro, se proclamasse protetor de toda a nação.
No século 20, antes mesmo do surgimento do fascismo, a esquerda também ganhou uma vertente totalitária. A social-democracia defendia a participação do estado na economia em função da melhoria da vida dos mais pobres. Trabalhava, no entanto, com a perspectiva de reformas que apontavam para uma sociedade socialista, assumido como um objetivo posto num horizonte distante, às vezes quase assumidamente utópico. Um sector da esquerda chamou a esse tipo de política de “projeto reformista”, e acusou-o de ser incapaz de realizar o socialismo (o regime que encaminharia para o comunismo, com o fim das classes sociais). Aliás, esses dissidentes passaram a dizer que a social-democracia nem mais queria o socialismo, mas apenas o próprio capitalismo continuamente reformado. O socialismo, ainda segundo esses dissidentes, teria que ser instituído por meio de uma revolução que colocaria toda a economia nas mãos do estado, de modo que este, então, organizaria a produção, a circulação e o consumo dos bens. Além disso, o estado retiraria os meios de produção das mãos dos ricos, e com isso iniciaria a transformação de toda a sociedade numa “nação de trabalhadores”. Sendo todos só trabalhadores, não haveria mais sentido falar em classes sociais, e eis que se estaria aí já no interior do socialismo. A mundialização desse processo eliminaria as classes sociais de todos os lugares, os poderes organizativos de cada estado tornar-se-iam poderes regionais de um só grupo – a humanidade – e isso implicaria o fim dos estados nacionais. Estar-se-ia, então, no comunismo.
Esse Estado socialista que estaria a encaminhar-se para o comunismo, exerceria uma ditadura transitória, revolucionária (a “ditadura do proletariado”), para poder retirar à força os meios de produção dos seus donos. Feito isso, esse estado ir-se-ia encaminhando do socialismo para o comunismo, a sociedade sem classes. Ao menos nas vozes dos seus fundadores, essa situação intermediária, e muito menos a situação final, não se configurariam como regimes totalitários. Pelo contrário, o comunismo seria o regime da mais alta e perfeita democracia, ainda que uma democracia sem partidos políticos e sem dissidências.
Não havendo mais ricos e pobres não haveria sentido falar em partidos ou divergências internas numa tal sociedade e, portanto, o termo “política” perderia o sentido, pois não haveria mais disputas pelo poder.
Paulo Ghiraldelli

Atividades: 
Trabalho de Grupo

 I – Elaborar um mapa conceptual de cada um dos textos.

 II
Para responder às questões seguintes devem basear-se nos textos, mas devem procurar outras fontes.
1.     O que são os partidos políticos?
2.     Podemos considerar que os partidos são fundamentais em democracia? Justifique.
3.     Os partidos políticos, hoje em dia, estão a cumprir uma função positiva na nossa democracia? Justifique.
4.     O que é a direita e a esquerda? Explique estes conceitos tendo em conta a forma como as diversas ideologias políticas encaram a relação do estado com os indivíduos.

 III
Elaboração de um projeto de constituição de um partido político democrático, com as seguintes componentes:

A – Descrição da ideologia do partido: – a) distribuição da riqueza; b) a dimensão do estado na sociedade; c) a relação de Portugal com a União Europeia; d) a integração do partido no espectro político; e) Identificação dos valores fundamentais defendidos pelo partido.
B – Descrição da base sociológica do partido: – a) bases de apoio; b) eleitorado; c) mudanças a efetuar na organização da sociedade.
C – Elaboração do logótipo do partido e duma síntese descritiva do mesmo.

IV – Elaboração duma campanha eleitoral do partido para concorrer às eleições legislativas de 2015.

Trabalho de grupo sobre a Arte

O que é a arte by paulofeitais on Scribd                            Teorias estéticas from Paulo Gomes Trabalho de grupo:...