sábado, 5 de dezembro de 2015

Os sofistas


Os sofistas viveram numa época áurea da cultura grega. O século de Péricles onde a democracia em Atenas desenvolveu intensa vida cultural e artística.

Sofista etimologicamente significa dizer apenas "sábio" ou "intelectual que sabe falar". Posteriormente adquiriu um sentido pejorativo de "alguém que usa de raciocínio capcioso, de má-fé, com intenção de enganar".

Ao longo dos anos, os sofistas sempre foram mal interpretados devido a críticas feitas por Sócrates e Platão. Segundo estes filósofos, a Filosofia não se deve basear na doxa, na opinião, mas deve constituir-se como episteme (ciência), ou seja, como saber racionalmente fundamentado e empiricamente comprovado. A verdade deve ser a principal preocupação dos filósofos, o que leva à rejeição da argumentação retórica e do relativismo defendido pelos sofistas, para quem não há opiniões verdadeiras, mas apenas opiniões defendidas de forma competente.

Sábios e pedagogos, os sofistas contribuíram muito para o ensino. Formaram um currículo de estudos que foi resgatado no período medieval.

Talvez o que mais escandalizava os seus contemporâneos seja o facto de que eles se faziam pagar pelas suas aulas, muitas vezes exigindo somas m uito elevadas aos seus alunos e, por isso, Sócrates acusava-os de prostituição. <…>

Ensinavam a arte de argumentar e persuadir, indispensável para exercer a cidadania numa democracia directa. Também davam aulas de retórica, que consistia em defender e a atacar com argumentos de igual força o mesmo assunto. Isso dava impressão de serem egoístas e sem credibilidade moral. Isto era reforçado pela sua afirmação cívica da lei do mais forte, o que parece que leva à instituição da democracia como um espaço político onde predominaria a lei da selva: os mais poderosos vencem sempre os mais fracos. Mas talvez o que os sofistas fizeram foi demonstrar que o poder da argumentação se sobrepõe a qualquer tipo de imposição dogmática, o que terá contribuído para o desenvolvimento da racionalidade em áreas que ficariam por explorar se a esfera pública ficasse inteiramente entregue a filósofos como Platão que, como ficou bem patente na sua obra A República, era contra a democracia.

É graças aos sofistas que o ‘povo’, enquanto auditório a que se dirigiam os seus discursos, ganhou consciência de si, dando origem a algo que hoje denominamos como opinião pública. (Texto adaptado).
|http://minhafilosofia.blogspot.com/2009/06/socrates-e-os-sofistas.html (Este site não deve ser consultado devido à fraca qualidade da escrita).


A intervenção cultural dos sofistas

“Os sofistas preocupavam-se, não com os valores que constituem a humanidade da conduta humana, mas com a utilidade da sua doutrina e da sua técnica para os indivíduos, especialmente na vida política.<…>

A existência da escolaridade depende do livro, e o seu uso tornara-se vulgar durante o século V, especialmente através dos escritos dos sofistas. A literatura grega anterior tinha por base a tradição oral, tendo que ser recitada e escutada.

As suas várias actividades no campo da literatura foram baseadas apenas na observação e experiências práticas. Não pode existir qualquer dúvida acerca da sua própria eficiência e no seu entusiasmo em esclarecer outras mentes. Eles deram uma contribuição decisiva para o desenvolvimento do livro, de cuja emergência e existência a escolaridade dependeu. <…>
A virtuosidade retórica teve como resultado imediato as suas análises da linguagem e os seus estudos "críticos" da literatura. O seu amor genuíno pela linguagem influenciou gerações que começaram pesquisas mais sérias. Finalmente, se tiveram que acumular uma vasta sabedoria para as suas próprias performances e para a instrução de alunos, tais colecções tornaram-se sugestivas para estudos posteriores. Mas todos os seus esforços, consideráveis como foram, tiveram um carácter mais ou menos arbitrário e casual.” 
|Rudolf Pfeiffer, “Os sofistas, seus contemporâneos e alunos nos séculos V e IV”.

Os sofistas e a vida da Pólis
Para além de formar o homem, a educação deve, sobretudo, formar o cidadão. A finalidade cívica da educação passa, claramente, a primeiro plano. É originariamente grega a ideia, tão actual, de que a educação é a preparação para a cidadania.

Habitante da Pólis, o homem só é o que é porque vive na cidade e sem ela não é nada. E o que diz respeito à cidade, é comum, isto é, afecta a todos enquanto comunidade e afecta cada um enquanto cidadão ou membro dessa comunidade. Neste sentido, é evidente que, antes de mais, o homem é um político (zoon politikon), como bem o captou Aristóteles, distinguindo-o, assim, do animal pela sua qualidade de cidadão; e o Biós politikos, que é a forma própria e sublime da vida do homem como habitante da pólis.

A consciência da cidadania desde cedo faz sentir a necessidade de uma nova educação, uma vez que, a antiga educação, com o seu receituário básico, simples e elementar de ginástica e música, não servia para a formação do cidadão, nem correspondia às novas necessidades individuais nem às novas exigências sociais e políticas.

Politicamente, a forma democrática de organização do Estado foi a forma de governo escolhida pela Cidade-Estado de Atenas. Ora, no estado democrático ateniense, a exigência de todos os indivíduos enquanto homens livres, ou seja, cidadãos, participarem activamente no Estado e na vida pública são deveres cívicos, e assim a participação nas assembleias torna-se indispensável. Neste contexto, compreende-se que tenha surgido uma nova estirpe de "educadores", os sofistas - com o estrondoso sucesso que se lhes conhece - que se apresentam como professores no sentido actual do termo, (os primeiros professores da história) e que oferecem, a troco de dinheiro (só por curiosidade, Protágoras pedia dez mil dracmas pelos seus serviços!... Note-se que uma dracma representava o salário diário de um operário qualificado...) o ensino da "virtude", o ensino da aretê política ou, como também lhe chamam os sofistas, a technê política (technê, em grego, significa técnica, ofício, habilidade, arte, ciência aplicada).

Os sofistas convertem, pois, a educação numa técnica ou numa arte, na qual eles são mestres e, por isso, capazes de a transmitirem e de a ensinarem. Assim os jovens, seus alunos, que vierem a dominar a technê política alcançarão, a aretê política.

Mas esta technê (técnica) política, está em conexão com as finalidades práticas que se propõe - formação de homens de Estado e de dirigentes da vida pública - e vai conduzir à valorização do homem (cidadão individualmente considerado) e vai orientar-se num sentido amoral ou mesmo imoral. Os seus contemporâneos vão acusar os sofistas de imoralidade.

Deste modo, um homem situado no coração da Pólis, quer vencer na vida política, quer fazer valer os seus interesses ou as suas convicções, quer ganhar um lugar de destaque, quer ser eleito para cargos públicos, quer ser governante e aceder ao poder. Para isso, para ter êxito político, precisa de saber falar bem, de encantar o auditório, de construir discursos persuasivos, de formular os argumentos que justifiquem e validem as suas posições, fazendo-as prevalecer como as melhores. Precisa, pois, da arte sofística da oratória, da retórica e da dialéctica. Mas porque o que é necessário é ter sucesso na vida pública e política, vencer a todo o custo e a qualquer preço, e isso só é possível convencendo os outros das minhas razões, retórica e dialéctica tornam-se armas potentíssimas que é preciso saber esgrimir com perícia; técnicas cujo domínio permite utilizá-las segundo as nossas conveniências, mas técnicas que se podem aplicar a qualquer conteúdo. Ora, os artífices desta técnica são os sofistas, ("Sofistas e oradores são a mesma coisa" Platão, Górgias, 520b), pelo que o diálogo de Platão Górgias, condenando a retórica que conduz à imoralidade, condena simultaneamente toda a sofística.

Não admira que os sofistas venham a ser acusados de imoralidade, de administrar uma educação perversa e pervertida, de corromper a juventude e de sublevar os valores tradicionais, minando as bases da ordem social e da política estabelecida.

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